Que saudades do velho ruído dos motores de um Boeing 737-200... Para muitos entusiastas e pilotos veteranos, o som característico dos Pratt & Whitney JT8, que impulsionaram os jatos dessa família na frota comercial brasileira durante anos, jamais será esquecido. É a marca de uma época, a da aviação clássica e dos bons tempos das viagens aéreas. Basta fechar os olhos para voltar ao passado, quando ainda tínhamos terraços panorâmicos abertos e ficávamos horas admirando os Boeing 737 da Varig, da Vasp e da Cruzeiro levantando voo ou aterrissando, sem desmerecer, é claro, os belíssimos Boeing 727 e os igualmente saudosos turboélices Electra da Varig. Tempos que não voltam mais.
Com o encerramento das operações da Vasp, em janeiro de 2005, os últimos -200 deixaram de operar no Brasil. Era o encerramento de um capítulo especial na história da aviação comercial brasileira, onde o Boeing 737-200 acabou ganhando o apelido “Brega”. Apesar da alcunha, de cafona, acaipirado ou deselegante o avião não tinha nada. Pelo contrário, o 737 nasceu bonito, com o mesmo tipo de fuselagem e seção dianteira encontrado nos aviões da família 707 e 727. O que aconteceu foi que, em 1987, a Rede Globo de Televisão exibiu a novela “Brega e Chique”, de Cassiano Gabus Mendes, e a comunidade aeronáutica aproveitou o momento para classificar o Boeing 737-300, da nova geração, como “chique”, e o antigo modelo, o -200, como “brega”. E o apelido caiu tão bem para a aeronave que até hoje qualquer piloto brasileiro que se depara com um Boeing 737-200 pelo mundo não deixa de dizer em tom de exclamação: “Olha um ‘Brega’ aí!”. E há aqueles que ainda procuram dar um tom mais afetuoso ao apelido, lembrando que o -200 é o menor da família. E o chamam de “Breguinha”.
Nos Estados Unidos, o jato recebeu o apelido de “Fat Albert” (“Alberto, o Gordo”), a exemplo de outros “gordinhos”, como o Lockheed C-130 ou mesmo o superjumbo Airbus A380. Provavelmente é uma alusão ao protagonista do desenho animado “Fat Albert”, criado nos anos 1960 por Bill Cosby e Leo Sullivan. Como curiosidade, o Boeing 737-100 de matrícula N515NA, o primeiro jato da família fabricado no mundo e que teve como último operador a agência espacial norte-americana NASA, tem pintado na fuselagem os dizeres: “Fat Albert I”. Está estacionado, atualmente, no pátio do museu aeroespacial de Boeing Field, em Seattle (WA).
